Entrelinha & Alinhamento
O bom espaçamento textual, assim como o alinhamento, são recursos muito comuns e relativamente fáceis de serem executados. O uso desses dois tipos de ajustes são impressindíveis na hora de formatar textos, pois eles são dois dos principais fatores que influenciam na legibilidade. Por isso, é necessário ter bastante cuidado no seu uso e aplicação. Então, como poder utilizar tais recursos com segurança sem fazer feio? Se você tem essa dúvida, esse post foi feito especialmente pra você!
Introdução
Atualmente, com a facilidade proporcionada por softwares de edição, a utilização dos recursos de alinhamento e espaçamento é facil, comparado ao trabalho que era alinhar e separar textos manualmente com os tipos de metal. Com a virtualização desses recursos, tudo se torna mais simples, uma vez que os softwares de edição de texto fazem os ajustes automaticamente, com base num padrão pré estabelecido.
Imagine se você tivesse que fazer uma peça gráfica como nossos queridos tipógrafos faziam antigamente, selecionando caractere por caractere, alinhando tudo isso manualmente em peças de metal, e, se algo desse errado, fosse necessário desmontar e montar tudo de novo. Daria um trabalho até mais ou menos, hein?
O fato é que mesmo com essa automação, os ajustes feitos pelos softwares devem ser revisados. Por exemplo: por mais que o Illustrator, coloque espaçamentos automáticos, algumas vezes é necessário realizar ajustes manuais para que se tenha melhores resultados. Isso varia de tipo para tipo.
Já as ferramentas de edição de texto como o Word, limitam esses ajustes manuais de espaçamento e entrelinha justamente para facilitar a vida do usuário comum, já que dele saem documentos que obrigatoriamente precisam ter uma boa legibilidade. Mas, como sempre, há usuários que dão um jeitinho de jogar tudo por água abaixo, por exemplo, selecionando fontes inadequadas.
Quem nunca pegou um comunicado no elevador feito todo com uma fonte metida à gotica? Mas isso é assunto pra outra hora.
Antes de irmos ao que interessa, gostaríamos de ressaltar uma regra bastante conhecida no mundo do design, cuja referência encontramos em Timothy Samara:
Conheça as regras para saber quebrá-las.
Então, mostraremos aqui regras principais sobre o assunto, mas como diria David Carson em sua apresentação no TED 2009,
De que vale trabalhar se você não pode ousar e tentar? Assim, lembre-se, toda regra apresentada pode, e deve, ser quebrada.
Espacejamentos
Na tipografia, existem três tipos de espaçamentos de texto: kerning, tracking e entrelinha (leading).
Kerning e Tracking já foram temas de outro post deste blog. Dá uma conferida lá.
De qualquer forma, para relembrar, aí vai um resumo rápido sobre o assunto:
Kerning é o ajuste da distância entre dois caracteres específicos;
Tracking é o ajuste proporcional entre todos os caracteres de uma palavra;
Pois bem. Sendo assim, colocaremos os holofotes sobre entrelinha.
O que é entrelinha?
A distância da linha de base de uma linha tipográfica para outra é o que chamamos de entrelinha, do inglês, leading. Esse nome veio das tiras de chumbo (leads), que servem para separar as linhas dos tipos de metal.
A entrelinha padrão da maioria dos programas de edição de texto é sempre um pouco maior que a altura da versal do tipo. Ao passo que aumentamos a entrelinha, o bloco de texto se torna mais aberto e leve. Deve-se tomar cuidado para não aumentar demais, pois senão as linhas tornam-se elementos individuais, desprendendo-se do bloco. Isso prejudica a legibilidade pois, após a leitura de uma linha, o olho humano demora mais tempo para achar o início da linha abaixo.
Assim como espaçamentos muito grandes, a entrelinha negativa também prejudica a legibilidade, pois a linha da descendente das letras de cima colide com a linha da ascendente das letras de baixo, tornando-se um bloco sólido demais e um emaranhado de letras.
Os exemplos abaixo mostram testes de entrelinha com a Segoe UI, em 11 pt.
Entrelinha negativa aparece em 9pt. A entrelinha automática é a de 13,2 pt (geralmente a entrelinha das fontes é sempre 120% o seu tamanho). Quando se coloca uma entrelinha maior que a automática, aos poucos percebe-se a desestruturação do bloco de texto.
Alinhamento
O alinhamento, como o próprio nome já diz, refere-se ao alinhamento da coluna de texto em relação à página, bem como à estética das bordas laterais dessas colunas.
Os tipos de alinhamentos já são bem conhecidos: justificado, à esquerda, à direita e centralizado. Já a estética das bordas pode ser dura ou suave.
Cada alinhamento possui suas vantagens e desvantagens e, assim como a entrelinha – e demais espacejamentos – deve-se ter cautela na hora de escolher qual utilizar. Abaixo serão mostrados na prática os alinhamentos, e seus respectivos pontos positvos e negativos.
Justificado
O texto justificado possui bordas duras (regulares) em ambos os lados. Isso fez com que ele se tornasse o padrão desde a invenção dos tipos móveis(caracteres de metal), pois possibilita a criação de colunas com bordas retas. A tipografia justificada utiliza eficientemente o espaço, dando um aspecto limpo. Contudo, pode produzir vazios estranhos no meio das colunas, que são chamados de rios, por parecerem com sabe o quê? É, isso mesmo. Isso ocorre quando o tamanho do tipo é muito grande em relação ao comprimento da linha. A hifenização ajuda a quebrar palavras muito longas e ajuda a manter as letras “empacotadas”. Caso seja necessário, pode-se fazer o uso do tracking para ajustar as linhas.
Pontos positivos:
- Mantém um visual limpo e organizado;
- Uso eficiente do espaço.
Pontos negativos:
- Possibilidade de surgirem os terríveis rios. Diminua o tamanho da letra, ou aumente a largura da coluna para resolver o problema
Alinhado à esquerda
Nesse tipo de alinhamento, as bordas da esquerda são duras e as da direita são suaves. Ao contrário do justificado, no alinhamento à esquerda nunca surgirão os vazios entre as palavras. Esse formato respeita o fluxo da linguagem e não se submetendo ao “empacotamento” sofrido pelo justificado. Por isso, o alinhamento à esquerda exige um árduo trabalho do designer para ajustar da melhor forma possível o desalinhamento da borda direita, sem que seja necessária a utilização demasiada de hífens. Vale lembrar que um bom desalinhamento (é, bom desalinhamento, hehe) não deve conter linhas muito longas ou curtas. Deve ser algo organizado, mas ainda assim aleatório.
Claro que o exemplo de mau uso acima, pode se tornar coerente. Mas isso depende da aplicação. Aqui estamos dando um exemplo de má aplicação quando se pensa a principal característica do alinhamento à esquerda, que é ser utilizado em textos longos.
Caso seja necessário colocar uma imagem com bordas irregulares dentro do texto, esse mau uso na verdade se torna uma vantagem, onde você pode contornar a imagem com o texto.
Pontos positivos:
- Mantém o fluxo orgânico da linguagem;
- Evita o espacejamento irregular entre palavras (possíveis rios).
Pontos negativos:
- Quando mal ajustada, perde o aspecto orgânico. Isso exige esforço para tornar a borda direita natural.
Alinhado à direita
É uma variação (ao contrário) do alinhamento à esquerda, a borda esquerda é suave e a direita é dura. Para os tipógrafos, é de difícil legibibilidade pois força o olho à achar uma nova posição no início de cada linha. Em virtude disso, talvez, ele é pouco utilizado em textos longos. Já em pequenos trechos, como em notas marginais, barras laterais, ou citações, por exemplo se aplica muito bem.
Pontos positivos:
- Esse tipo de alinhamento pode ser uma boa pra quem quer inovar.
- Ótimo para legendas, notas marginais ou barras laterais.
Pontos negativos:
- Tome cuidado com pontuações no fim das linhas. Elas podem quebrar o alinhamento da borda direita.
Centralizado
Simétrico, ambas as bordas são suaves e irregulares. É amplamente utilizado quando se deseja passar um ar de requinte, elegância ou formalidade. São exemplos: convites, folhas de rosto ou certificados. As quebras de linha no alinhamento centralizado pode ser utilizado quando se quer enfatizar alguma frase ou nome (i. e. nome da noiva) ou quando se quer que um pensamento inicie em linha própria. O nome desse tipo de quebra de linha é quebra pelo sentido.
Pontos positivos:
- Ideal em aplicações clássicas e formais.
- Permite ao design colocar sua criatividade criando o sentido do texto pela quebra de sentido.
Pontos negativos:
- Estático e convencional. Se for mal aplicado pode parecer tedioso.
Isso é tudo pessoal. Esperamos que o post tenha sido útil. 🙂
Referências
- Lupton, Ellen. Pensar com Tipos: Guia para designers, escritores, editores e estudantes. Cosac Naify: São Paulo, 2006.
- Gavin Abrose; Paul Harris. Tipografia – Coleção Design Básico. Bookman, 2011.
- http://www.woww.com.br/2008/08/espacejamento-entrelinhamento-e.html
Artigo super bacana, principalmente para aqueles que lidam diariamente na construção do livro.
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