A arte da caligrafia

Aqui no Tipo da Fonte, falamos muito em tipografia. Amamos o tema e estudamos mais e mais sempre que temos um tempinho livre que seja. Entretanto, existe um ramo beeem próximo – vizinho mesmo – à tipografia que acabamos por forcadamente deixar de lado por absoluta falta de conhecimento, a caligrafia.

História

A caligrafia, “arte da escrita bela“, tem suas origens com a invenção dos alfabetos, especialmente o grego e o cirílico, por volta de 3000 A.C.. Essa a primeira vez que a humanidade utilizava um sistema de códigos refinados para guardar e difundir informações. Escrever também possibilitou que a sociedade se estabilizasse sob o império da lei, registrando informações e podendo consulta-las posteriormente.

Dominar tais códigos era uma tarefa árdua. Pessoas escolhidas para serem escribas, iniciavam seus estudos na edubba – escola da escrita – aos 10 anos e só tinham folga 6 dias por mês.

Imagem da escultura do Escriba Sentado
O Escriba Sentado é uma escultura que representa um escriba durante seu trabalho. A imagem data do período da quarta dinastia do Império Antigo, por volta de 2620 a 2500 a.C

Para se ter uma ideia da quantidade de trabalho na época, um livro de duzentas páginas exigia 4 ou 5 meses de trabalho de um escriba, e as cerca de 25 peles de carneiro necessárias para o pergaminho eram ainda mais onerosas que o seu trabalho. Nessa época, o valor de um livro era quase igual ao de uma fazenda.

O reinado da caligrafia, e de se escribas, durou até 1439, quando Johannes Gutenberg – na tentativa de democratizar o livro e baratear o seu processo de impressão, dá início ao uso de tipos móveis e à imprensa.

A partir daí, o que houve foi uma constante retração, e por que não dizer, requalificação do trabalho do calígrafo. Assim como a pintura deixou de ser um meio registro visual com a chegada da fotografia, a escrita acabou buscando na beleza do manufaturado o seu espaço após a chegada dos tipos móveis.

A profissão

A profissão de calígrafo ficou um pouco de lado, mas ainda existe, é forte e resiste. O jornal Diário de Londrina publicou no ano passado uma matéria interessante sobre esse trabalho. Hoje, um calígrafo no Brasil vive principalmente da escrita em convites de 15 anos e casamentos. A jornada inclui 6 horas quase ininterruptas de trabalho, muita concentração e estudo, isso sem contar na carga de tensão que o corpo sofre após tanto tempo em uma jornada desgastante. O custo de isso tudo? Cerca de um real por convite, chegando o calígrafo a faturar por mês, cerca de R$ 1.200,00. Pouco para um trabalho tão bonito, né?

Calígrafos

No mundo

Existe, entretanto, um outro lado da moeda. A parte da profissão que se sobressai e que desenvolve grandes trabalhos, principalmente em projetos de design ou na criação de famílias tipográficas. Entre esses grandes calígrafos, podemos citar John Mottishaw. Recentemente nos deparamos com este vídeo de uma caneta tinteiro de ponta fina Namiki Falcon modificada por ele e é impressionante o que o cara consegue fazer com uma simples caneta.

No Brasil

No Brasil, um dos grandes nomes é Andréa Branco. Andréa tem cerca de 25 anos de trabalho na área e essa experiência a levou a realizar o trabalho de revisora técnica do livro “A arte da caligrafia“, uma das poucas boas referências bibliográficas no assunto que está em português.

Em seu atelier, Andréa Branco desenvolve trabalhos em estamparia, criação de famílias tipográficas e outras aplicações diversas. Abaixo, alguns exemplos da qualidade do trabalho dela. Quer conferir mais? Visita o Flickr dela. =)

No próximo post sobre caligrafia falaremos sobre a oficina ministrada pela Andrea Branco em Fortaleza e daremos algumas dicas básicas para quem quer aprender sobre o assunto. Até lá.

Referências:

As referências históricas citadas nos textos foram tiradas do livro “História do Design Gráfico” de Philip B. Meggs. Recomendamos.

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