TYPE & CODE: Uma introdução à Tipografia Generativa

Olá! Este é o primeiro post da série “TYPE & CODE” saindo do forno. A série disponibilizará dois posts como um gostinho do e-book que lançaremos brevemente. Fiquem atentos, porque será um material recheado de conteúdo massa pra você que, assim como a redatora que vos fala, se interessa pela matemática maluca de design + tecnologia <3

Então, vamos lá!

Nos últimos anos, o avanço da tipografia vêm cada vez mais alinhada com a tecnologia disponível. Typefaces são projetadas em vetores, e pensadas também para telas de computador, ferramentas virtuais aceleram processos antes manuais e cansativos, a tipografia responsiva torna-se possível e viável em ambientes virtuais, etc.

Acompanhando tal ritmo envolvente, designers buscaram explorar mais possibilidades, movidos pela curiosidade de levar a tipografia ao seu limite:

 

“Se a tipografia toma a forma de qualquer que seja seu conteúdo, e se ela tende a mudar de acordo com o estilo de cada época, porque não fazê-la tomar a forma de um conteúdo programado em tempo real?

 

A partir deste raciocínio surgiram experimentos usando uma variedade de elementos visuais renderizados por algoritmos e códigos – a ousada “tipografia generativa”.

Como qualquer tendência inovadora, a tipografia generativa provocou discussões sobre o futuro do design, da tipografia e da linguagem. Até que ponto sua expressividade pode ser considerada como desenho tipográfico, e não apenas formas sendo manipuladas para fins estéticos?

Para mergulhar mais na discussão, se liga no curta On Generative Typography (Na Tipografia Generativa, em português) promovido pela firma de design norte americana Type Director’s Club, onde designers e tipógrafos famosos mundialmente discutem seus pensamentos sobre a tendência do design generativo. Confere só:

 

 

Bem, apesar de tantos questionamentos, é certo de que design generativo é totalmente eficiente, e rompe os limites do convencional. Não é bom nem ruim, é apenas uma ferramenta – como aquarela e tinta a óleo –  e faz parte da evolução natural das habilidades do designer contemporâneo. Assim como a maioria dos processos criativos, o importante é o resultado que você consegue usando-a. <3

 

Como surgiu a tipografia generativa?

Durante os anos 80, quando todas as formas de tipografia digital estavam nascendo, os designers alemães Just van Rossum e Erik van Blokland introduziram a fonte chamada FF Beowolf. Para criá-la, os designers alteraram a programação padrão numa fonte PostScript, tecnologia que permite escalar a forma das letras de forma randômica.

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Beowolf by Erik van Blokland and Just van Rossum

Ao longo do tempo, quando os sistemas operacionais tornaram-se mais avançados e os designers mais interessados em criar tipos generativos, softwares apropriados foram desenvolvidos: A OpenType surgiu, o formato escalável de fonte programado pela Adobe e Microsoft, e com ela várias outras opções, como a possibilidade de programar uma typeface para circular randomicamente por até 10 glifos, ou símbolos, em cada forma de letra. Apesar de ainda não ser totalmente generativa, essa conquista permite múltiplas variações dentro de um bloco de texto do mesmo set de uma fonte tipográfica. Fantástico!

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Exemplo de presets no OpenType

Em 1993, Frere-Jones desenhou uma typeface chamada Reactor, que basicamente se auto destruía. Inspirado por um edifício em chamas e suas ruínas, Reactor apresentava-se como borrões randômicos de sujeira que se acumulam quanto mais texto é inserido.

FB Reactor, 1996

Em 2005, Christian Schwartz fez algo similar ressuscitando sua primeira fonte tipográfica desenhada, quando estava na escola. Chamou sua criação de Local Gothic, dando a cada forma de tipo alturas e larguras diferentes randomizadas por programa de computador.

Local Gothic, 2005

Recentemente, Toshi Omagari criou a Cowhand, uma fonte tipográfica display, destinada ao uso de títulos chamadas de tamanhos mais largos. Todas as palavras digitadas em Cowhand contém a mesma largura, independente do número de caracteres.

https://i0.wp.com/adcglobal.org/wp-content/uploads/2015/06/cowhand1.jpg?resize=546%2C290
Cowhand, 2015

Depois de várias experimentações, Leon Butler chegou ao que temos mais próximo da tipografia generativa hoje conhecida, com a criação de uma fonte tipográfica chamada Generative Sans, como resultado de uma experimentação maluca feita em busca de novas ferramentas e habilidades como designer. O algoritmo de Generative Sans redesenha a forma de uma letra toda vez que é digitada, de forma que cada caractere fosse único.

Generative Sans, 2015

Butler ganhou, com sua criação, um prêmio de excelência da Type Director’s Club na Competição de Design de Comunicação em 2015.

Novas ideias foram surgindo e já estão sendo implementadas, como a tipografia responsiva, que muda dependendo do tamanho da tela de visualização do dispositivo. O que mais virá pela frente, hein?

 

Alguns trabalhos sucesso de tipografia generativa

O design generativo de tipos se popularizou, de forma a promover diversas personalidades do mundo tipográfico. Vou te mostrar algumas personalidades que vale a pena seguir seus trabalhos! Dá uma olhada:

 

Manolo Guerrero – Sonotipo e OPTICA Normal

Optica Normal é uma typeface construída com a ajuda de linhas ortogonais alinhadas em uma ordem fixa. Neste “jogo óptico”, podemos perceber a textura de um padrão, mas se você analisar a direção das linhas, verá o texto por dentro.

Já a Sonotipo é uma tipografia experimental baseada na distorção em tempo real de caracteres individuais por meio da análise de frequência do som. A distorção pode ser vista exportando frames da animação do código.

Foram desenvolvidas por Manolo Guerrero, um designer de tipos membro da empresa BLUETYPE, na plataforma visual Processing. A Optica e a Sonotipo ganharam diversos prêmios e certificados de honra. Você pode dar uma olhada em outros trabalhos do tipógrafo aqui.

Guerrero também ensina desenho tipográfico generativo no Processing pelo acervo de cursos online Domestika! Quer conferir mais sobre? Confere aqui o link.

 

The Type Director’s Club  – Experiencial Campain

Sabe aquele curta sobre Tipografia Generativa que você viu lá em cima? Então, ele fez parte da campanha experimental realizada em uma das competições anuais promovida pelo Type Director’s Club.

A campanha tinha como objetivos promover a tipografia generativa como ferramenta de experimentação e expressão artística, por meio de uma instalação multimídia que permite o designer manipular a arte generativa com as mãos, montando um cartaz tipográfico em tempo real do evento. O cartaz personalizado poderia ser impresso e guardado como lembrança.

A campanha repercutiu nas mídias sociais, e teve uma resposta bastante positiva! Você pode conferir com mais detalhes a experiência assistindo ao vídeo abaixo:

 

Basel School of Design – Laser Letters

Criada no curso de Comunicação Visual da Basel Escola de Design, Laser Letters é um projeto resultado de um curso de 6 dias promovendo a introdução da plataforma do Processing e uma visão geral de tópicos relacionados à tipografia e mídias interativas.

O curso ensina formas de combinar experimentos que incluem tipografia, áudio e simulação de laser, que no seu fim são codificados e expostos num showcase.

Dá uma olhada no vídeo que eles preparam da exposição de uma das turmas:

 

Craig Ward – Tipografia Glitch

 

A tipografia Glitch é uma exploração da legibilidade por meio da aplicação de glitches e corrompimento de arquivos para tipografia. Craig e seu colaborador Patrick Garbit, criaram a Glitch usando o Processing.

Veja mais trabalhos sucessos de Craig aqui!

 

Just van Rossum e Erik van Blokland – Drawbot e Letterror

https://i0.wp.com/2016.typographics.com/assets/uploads/van_Rossum-Python_DrawBot.gif?w=800

Se lembra dos precursores da tipografia generativa, que manipularam os primeiros scripts de tipografia digital? Então, eles atualmente dedicam-se ao ensino de tipografia generativa codificada em Phyton.

Just van Rossum criou a Drawbot, uma plataforma de aprendizado da linguagem Phyton. A título de curiosidade: Just van Rossum é irmão de ninguém menos que o CRIADOR da linguagem Phyton, Guido van Rossum. Chefe é chefe, né pai?

Já Erik van Blokland mantém seu projeto Letterror, um blog de discussão sobre tipografia generativa, divulgação de trabalhos pessoais, participação em eventos, etc.

Você pode conferir uma entrevista com a dupla de ouro sobre seus trabalhos aqui.

 

E aí, animado para explorar esse mundo imenso da tipografia generativa? Pois no próximo artigo O Tipo da Fonte vai falar sobre as plataformas mais utilizadas para criar algoritmos generativos. Fica ligado, hein?

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Por hoje é só. Um beijo, e até mais!

3 comentários em “TYPE & CODE: Uma introdução à Tipografia Generativa

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