Tipografia na Política (2016)

Em 2012, fizemos nosso primeiro post sobre tipografia em campanhas políticas. Passados 4 anos (e com tanta coisa que aconteceu de lá para cá), chegou a hora de vermos o que mudou ou não nas campanhas políticas em relação ao uso de tipografias. Desta forma, buscamos saber um pouco mais sobre o que pensam os designers que trabalham para os nossos políticos.

Definindo o tamanho da amostra

Ao contrário do texto passado, desta vez tentaremos fazer uma análise mais abrangente, incluíndo mais cidades e analisando um número maior de casos.

Para este estudo, definimos que universo que abordaríamos seria o tipo de letra utilizado na escrita do nome dos três candidatos com maiores índices de intenção de votos nas pesquisas para prefeito das dez cidades mais populosas do país nas eleições 2016.

Assim, buscamos as 10 cidades mais populosas do Brasil e também a lista com os candidatos com melhores resultados nas pesquisas realizadas em agosto de 2016. Desta forma chegamos aos seguintes nomes:

São Paulo – 11 967 825

  1. Celso Russomanno (PRB): 33%;
  2. Marta (PMDB): 17%; e
  3. Fernando Haddad (PT), Luiza Erundina (PSOL) e João Dória (PSDB): 9% cada.

Rio de Janeiro – 6 476 631

  1. Marcelo Trivela (PRB): 46%;
  2. Marcelo Freixo (PSOL) :14%; e
  3. Flávio Bolsonaro (PSC): 13%.

Salvador – 2 921 087

  1. ACM Neto (DEM): 68;
  2. Alice Portugal (PCdoB): 8%; e
  3. Pastor Sargento Isidoro (PDT): 6%.

Brasilia – 2 914 830

Fortaleza – 2 591 188

  1. Roberto Cláudio (PDT): 29%;
  2. Capitão Wagner (PR): 21%; e
  3. Luizianne Lins (PT): 18%.

Belo Horizonte – 2 502 557

  1. João Leite (PSDB): 21%;
  2. Alexandre Kalil (PHS): 11%; e
  3. Luis Tibé (PTdoB): 6%.

Manaus – 2 057 711

  1. Arthur Neto (PSDB): 32%;
  2. Marcelo Ramos (PR): 16%; e
  3. Serafim Corrêa (PSB): 10%.

Curitiba – 1 879 355

  1. Rafael Greca (PMN): 28%;
  2. Gustavo Fruet (PDT): 19%; e
  3. Requião Filho (PMDB): 10%.

Recife – 1 617 183

  1. João Paulo (PT): 27%;
  2. Geraldo Júlio (PSB): 26%; e
  3. Daniel Coelho (PSDB): 11%.

Porto Alegre – 1 476 867

  1. Luciana Genro (PSOL): 23%;
  2. Raul Pont (PT): 18%; e
  3. Nelson Marchezan Jr (PSDB): 12%.

Lembrando que desta lista retira-se a cidade de Brasília por não possuir eleição para prefeito.

Forma de análise

Cada imagem com o nome dos candidatos foi, então enviada para sistemas de reconhecimentos de escrita, sendo o principal destes recursos Font Identifier, do Font Squirrel; e o What The Font, disponibilizado pelo My Fonts. O objetivo desse processo era identificar a tipografia utilizada, alterações em uma tipografia original ou ainda verificar indícios de um letreiramento. Após identificar o nome da família, registramos também variações de peso e de largura.

Por fim, realizamos uma breve categorização de cada um dos resultados, utilizando uma classificação de enquadramento tradicional (sem serifa, serifada, cursiva ou decorativa), para termos um mínimo de classificação das tipografias utilizadas. Reconhecemos que está é uma classificação simplória, mas tivemos que nos ater a este recorte para manter a viabilidade da análise.

Apresentando alguns resultados

 São Paulo

sp

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro não encontramos as fontes utilizadas pelos candidatos. Sabe alguma delas? Comenta aí! =)

Salvador

salvador

Fortaleza

0000.jpg

Belo Horizonte

bh

Manaus

manaus

Curitiba

curitiba.jpg

Recife

recife.jpg

Porto Alegre

 portoalegre.jpg

A visão geral

Ao analisar os resultados de uma forma mais completa, conseguimos encontrar alguns pequenos padrões que indicam alguns tendências que se mantêm desde nosso último post e que devem perdurar para as próximas eleições.

Captura de Tela 2016-09-30 às 10.28.33.png

Identificamos 24 famílias tipográficas utilizadas. Deste total a grande maioria dos candidatos optou por utilizar em suas identidades fontes não serifadas. Observem o gráfico abaixo.

Captura de Tela 2016-09-30 às 10.39.02.png

Como dissemos anteriormente, reconhecemos que essa classificação pode não ser suficiente para uma análise aprofundada. Além de serem fontes sem serifa, em sua maioria, são escolhas pesadas. Não encontramos uma só fonte leve. Apenas quatro delas foram regulares e todo o resto são fontes de pesadas até Black.

Captura de Tela 2016-09-30 às 10.48.31.png

Assim, em geral, confirmamos que normalmente as fontes utilizadas durante as campanhas são do tipo Sem Serifa e com Corpo Pesado (Bold ou Black).

Deste total, foi curioso notar uma variedade de escolhas que quase não possibilitou a ocorrência de repetições nas escolhas dos candidatos. As excessões ficaram por conta da Futura, Nexa e Museo que foram, cada uma, escolhidas por dois candidatos.

Ao final, podemos notar que cada vez mais os políticos investem em identidades visuais mais elaboradas para compor sua imagem. É claro que a tipografia em não ganha votos, mas ao mesmo tempo cria um clima que pode favorecer a percepção do eleitor sobre o candidato.

No geral, podemos lançar uma leitura de que a ideia geral que se passa é de força (pelo uso de variações pesadas) e de tradição (pelo uso das serifas). Como observamos ainda no post anterior, candidatos que se lançam com plataformas alternativas tem um pouco mais de liberdade de optar por letreiramentos ou famílias cursivas mas em geral são minoria.

PS: Este post foi escrito a quatro mãos com Átila Souza Oliveira.

Gostou? Se tiver alguma dúvida ou sugestão, Deixa seu comentário abaixo que a gente adora quando vocês entram em contato, viu? Até a próxima!

7 comentários em “Tipografia na Política (2016)

  • 30/09/2016 em 7:21 pm
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    Opa! Recebi um Pingback lá no blog por ter o link citado aqui e vim correndo ver hahaha.

    Primeiramente, obrigado por utilizar meu singelo blog como fonte de referência para os enquadramentos tipográficos 😉

    E agora vamos as minhas considerações sobre o post, eu ainda não conhecia o blog de vocês, é muito bacana ver um Blog segmentado em um assunto específico, e como vocês exploram de forma mais profunda a tipografia.

    Boa parte da ideia de utilizar as fontes em Bold, Extrabold e Black, deve ser justamente pelo contraste alto. O bacana, é que fica notável que as identidades visuais foram realmente bem elaboradas, é difícil encontrar erros de contraste, até mesmo em fundos mais escuros tomaram cuidado em utilizar a fonte em branco para melhorar a legibilidade.

    Vou dar uma analisada nas tipográficas utilizadas aqui na minha cidade e então volto a comentar novamente pra colaborar com o conteúdo.

    Resposta
    • 30/09/2016 em 7:27 pm
      Permalink

      Perfeita a sua análise, Wellington. Sobre o contraste, parece ser isso mesmo. Mesmo quando se utilizam letreiramentos, eles possuem o traço muito pesado e podem ser percebidos facilmente. Se tiver alguma informação da sua cidade, manda que a gente adiciona! Abraço!

      Resposta
  • 02/10/2016 em 12:53 pm
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    Olá Eduardo, aqui escreve Fabio Lopez, designer gráfico carioca, professor da Puc-Rio. Em primeiro lugar gostaria de agradecer pelo artigo e todo seu esforço de levantamento. Quanto a isso, lamento apenas que não tenha coletado os logotipos dos candidatos da fauna carioca, segundo maior colégio eleitoral do país em se tratando das capitais. Ainda há tempo. 🙂

    Com relação a sua metodologia, se me permite, gostaria de fazer algumas observações.

    Identificar as fontes é desafiador e divertido, compreendo, mas não sei se é um aspecto realmente relevante na análise da retórica tipográfica dos candidatos (se for essa a sua proposta de fundo). Imagino que isso tenha demandado uma energia enorme, e a precisão dessa tarefa – em alguns casos – fica muito comprometida pelas poucas letras da amostra. Uma boa parte dos logotipos também está em caixa alta, o que dificulta ainda mais a tarefa ao reduzir elementos de personalidade – as ‘earmarks’, sobretudo no caso de fontes sem serifa. Acredito que em alguns casos o melhor seria acrescentar ‘provavelmente fonte X’, ou ‘bastante semelhante à fonte Y’: as vezes, ao assumirmos a imprecisão tornamos nosso levantamento mais técnico – quiçá preciso.

    Resumindo: uma simples identificação da tipologia já seria bastante interessante. Sim, tipologia mesmo, a classe à que cada fonte pertence e não o tipo exato (ex.: humanistas, serifadas, slabs, geométricas, etc.).

    No lugar de perder um belo tempo nessa tarefa de identificação das fontes, seria possível refinar e aprofundar a análise de classificação das mesmas – visto que isso talvez seja mais relevante para um mapeamento do uso da tipografia em campanhas. Isso te permitira, por exemplo, gerar gráficos comparativos sobre o uso de recursos recorrentes e seu significado no campo político. Por exemplo:

    1. caixa alta e caixa baixa :: informalidade x autoridade;
    2. variantes de peso :: força, pregnância, intensidade e posicionamento ideológico;
    3. itálico e regular :: reforço de dinamismo;
    4. sem serifa (geométrica/humanista), serifa (slab/fina), tipos manuscritos (e letterings caligráficos), tipos decorativos :: aspectos simbólicos, como temporalidade, proximidade, estabilidade, dinamismo, informalidade, ideologia, postura, etc etc.

    Ou seja, é um artigo legal, mas você pode torna-lo realmente relevante se:

    1. melhorar seu LEVANTAMENTO, completando e aperfeiçoando sua classificação e apresentação (o que inclui resolver melhor a escala de cores de seu gráfico de ‘peso’, acrescentar a categoria ‘provavelmente’ no seu gráfico de identificação e criar gráficos pizza de outros sabores). Não esquenta tanto com esse lance de ‘qual é a fonte’, isso é somente uma curiosidade pouco técnica…

    2. na elaboração de algum tipo de ANÁLISE concreta, cruzando seu levantamento com alguma teoria de retórica tipográfica. Quais os recursos recorrentes (clichês) nessa esfera maldita do marketing político, quem pisou na bola, quem ousou, qual a principal referência aos candidatos, quem copiou quem, que imagem de marca condiz menos com a imagem do político, etc etc. Ou seja, o que cada candidato está querendo dizer (ou diz acidentalmente) através da tipografia em uso nos seus logotipos. Divirta-se!

    Quem sabe vira uma dissertação – embora possa servir, acidentalmente, para que marketeiros mintam ainda mais pelos seus clientes… o/ 😉

    Obrigado, continue e um abraço!
    Fabio Lopez

    Resposta
    • 02/10/2016 em 1:30 pm
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      Oi, Fábio.

      Obrigado pelo comentário e pelas indicações. Acompanho o seu trabalho e a desafiadora tarefa que é conseguir desenvolver trabalhos com um ótimo nível profissional e ter uma vida acadêmica ativa. A sua dissertação tem sido uma referência a alguns projetos que estou ainda desenvolvendo e tem ajudado bastante. =)

      Achei massa suas dicas e sugestões. Irei só faz só alguns comentários sobre elas, vamos lá:

      1. Sobre os candidatos do Rio de Janeiro, acabamos realmente sem conseguir fazer a identificação das fontes nos logotipos. Foi uma coincidência chata ter recaído esse processo em uma só cidade. Vamos tentar ainda assim fazer a identificação e atualizar o post.

      2. Sobre reconhecer as tipografias ou identificar as tipologias, eu concordo que o trabalho de identificar acaba agregando menos informações que se estivéssemos tentando identificar as tipologias. Quando delimitamos o método de análise por uma classificação simples sabíamos que muita coisa seria perdida em termos de informação, mas esta escolha aconteceu em função do escopo do post que não podia ficar maior do que já era. Entretanto finalizado o processo deste post, deveremos mudar a forma de análise para o próximo post. Quem saber até usar um framework de catalogação como o da Catherine Dixon. Isso poderia ser uma boa.

      3. Certamente iremos (eu e Átila) desencanar dessa coisa de identificação. Coube ao Átila fazer este processo e ele foi um monstro nisso, mas concordo que será melhor canalizar esta força para outras área que podem trazer mais informações.

      Agradecemos mais uma vez pelas sugestões e tentaremos melhorar mais ainda este método de análise. Sobre dissertação, a ideia é tentar trazer um mínimo de rigor acadêmico para os posts mantendo um pouca da informalidade. Estamos tentando achar esse tom e comentários assim nos ajudam bastante!

      Um abraço!

      Resposta
      • 02/10/2016 em 2:42 pm
        Permalink

        Minha tréplica, em 45 segundos. 🙂

        1. Mais chato mesmo foi ter recaído sobre a MINHA cidade, hehe.

        2. Sobre o tamanho da postagem: se o conteúdo é valioso, não se preocupe com isso. Com o levantamento que realizou, você teria matéria prima para escrever uma postagem-curiosidade, ou propor uma plataforma de discussão sobre um assunto muito mais interessante para a comunidade de designers, que é retórica tipográfica. Identificar fontes vs. aprender a usa-las.

        Dependendo do seu objetivo, a melhor maneira de avaliar o raio de alcance e a qualidade de sua postagem não é o tempo na página ou a visibilidade da postagem, mas a qualidade dos feedbacks que recebe, e as discussões que ele proporciona.

        Sobre o tom mais adequado, recomendo que procure um artigo do Boston Globe (quase certeza da fonte) onde eles analisaram as marcas dos candidatos da corrida eleitoral norte-americana de 2008 (Hillary, Obama, McCain e independentes). Foram análises relativamente superficiais, mas invadiram o campo da retórica (cor, tipografia e elementos gráficos), o que permitiu reflexões interessantes.

        Sobre o uso da plataforma da Catherine, acho que nem ela faria isso – pela complexidade do sistema de análise, rs. No final talvez isso fosse um preciosismo técnico que não necessariamente ajudaria na discussão mais interessante da postagem: o que os candidatos estão querendo dizer através da tipografia.

        3. Uma tarefa ingrata, mas que não deixa de ser divertida. E pode ser um ponto de partida para uma bela reflexão. Valeu!

        Abs,
        Fabio Lopez

        Resposta
    • 31/10/2016 em 10:48 am
      Permalink

      Oi, Adonias. Obrigado pelo retorno, vamos tentar atualizar o Post em breve. Conseguimos encontrar também a do Bolsonaro. Agora só falta a do Crivela

      Resposta

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