Tipo da Fonte em Londres!

Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015, o Tipo da Fonte esteve presente no 4 Designers Conference em Londres. O 4 Designers é um evento que dura apenas um dia e que consiste em quatro palestras e sessões de perguntas e respostas com 5 profissionais especialistas em alguma vertente na área de design. Criado por estudantes de Arte e Desing, participar do 4 Designers é ter acesso a uma conversa íntima e super relevante com alguns dos designers mais reconhecidos do mundo. E esse ano não foi diferente. Tivemos Dave Palmer, Phil Carter, Alan Dye, Patrick Baglee como mediador, mas o destaque foi para Bruno Maag. E foi a partir dessa palestra que surgiu esse post.

Tipo da Fonte Equipe em Londres

Bruno Maag é o co-fundador e proprietário da Dalton Maag, possivelmente, o maior estúdio independente na Europa especializada design de tipos. Educado em Basel, no seu país de origem, a Suíça, trabalhou e viveu em Londres por duas décadas. Sua empresa desenvolveu recentemente um enorme sistema de fontes com um conjunto de caracteres que suportam diferentes línguas e alfabetos para Nokia e apresentou sua fonte sob medida para os Jogos Olímpicos Rio 2016. E tem mais, Bruno Maag é conhecido também pela sua repulsa extrema à fonte Helvética e todos aqueles que a defendem com unhas e dentes – assunto delicado entre a equipe do blog e que gerou mutias piadas internas entre os palestrantes. E não, ele não faz isso com o propósito de chamar atenção. Ele provou com detalhes bastante técnicos o seu ódio à Helvética (nas suas próprias palavras “Velha, escrota, preguiçosa e pobre”) e seu amor e devoção eterna à Univers (“A Univers é a perfeição. Olhem quão suave são essas curvas. Se vocês querem uma boa referência, Frutiger é o mestre da Tipografia Moderna.).

Mas esse foi apenas um dos pontos notáveis na palestra do Bruno. De início ele contou como se tornou designer de tipos. Proveniente de uma família de engenheiros mecânicos, Bruno foi a ovelha negra e detestava cada minuto daquele trabalho massante, ao passo que ele próprio não fazia ideia do tipo de profissão que gostaria de ter. Eis então que um belo dia sua mãe sugere para trabalhar no departamento de impressão de um jornal suíço, Bruno resolveu se dar esta chance. Ele contou que o ambiente, os tipos metálicos, a caixas, as tintas, o barulho das monstruosas máquinas de impressão de jornal capazes de gerar grandes tiragens em poucos segundos o fez se apaixonar pela área. Depois disso ele foi estudar Comunicação Visual na Basel School of Design. Naquela época o ensino tipográfico era bem mais técnico e mais rigoroso, sendo obrigatório decorar tabelas de redução e conversão de unidades.

Ele também compartilhou conosco como é a rotina de trabalho na Dalton Maag e melhor, como faz para entrar. A Dalton Maag está sempre recebendo estagiários e alunos do mundo todo para seu programa de experiência. (Inclusive, o brasileiro Fábio Haag hoje é um dos colaboradores da Dalton Maag) Esse é um processo bastante exigente, dada a qualidade e relevância de seus clientes. Bruno deu um conselho direcionado principalmente aos  estudantes lá presentes: “Se você acha que você sabe de alguma coisa, você não sabe nada. Vocês precisam de treino.”

Scene from Game of Thrones

Se você conseguir passar na entrevista e se mostrar um professional dedicado e interessado em crescer, ótimo. Após isso, é iniciado  um programa de treinamento de 3 meses, iniciados com 2 semanas exclusivas de exercícios de caligrafia. Segundo Bruno, esse passo é crucial na carreira de todo designer de tipos. É na caligrafia que você entende o processo de contrução dos caracteres, das formas, de como atribuir legibilidade e consistência nos padrões.

Extract from http://imjustcreative.com/rio-2016-font/2012/07/24/

Entre os exercícios, os trainees devem ampliar fontes conhecidas a partir do tamanho 12 pontos –  um processo bem mecânico e que exige um bom olho para letterform. Perto no final do curso, você deve criar sua própria fonte, uma das fases mais difíceis porque não se trata de aparências apenas. Bruno disse que os que estão em treinamento devem vender sua fonte para a Dalton Maag. Em outras palavras, não se trata apenas de design. O custo de produção de uma fonte gira em torno de £ 2000 libras, o aprendiz então dizer porque a Dalton Maag deve possuir sua fonte (mostrar aplicações relevantes que retornem lucro para a empresa) e porque eles devem investir £ 2000 libras nesse projeto. Bruno relembra que aquele é um programa de negócios. A Dalton Maag concebe fonte para projetos em escala global, isso significa projetar caracteres de outros alfabetos, tais como sânscrito, coreano, japonês, thai, árabe, cirílico, entre outros. Você deve mostrar que não é uma perda de tempo para a fundição e que suas habilidades farão a empresa crescer.

11021354_1004305122916321_7518517702915944364_o

Bruno também relembra que “Em Tipografia, o detalhe é o que importa.” (tema que será abordado em um próximo post), e que, como designers, nós devemos responder o brief. “Não somos artistas, nós criamos para solucionar problemas e por isso devemos ser curiosos e conhecer um pouco de tudo ou melhor, muito de tudo.”

Quando perguntado o que ele achava do ensino de tipografia nas Universidades, Maag comentou que duas ou três disciplinas não suprem a necessidade de uma formação mais completa em tipografia, visto que a maioria das peças de Design Gráfico (seja digital ou impresso) se utiliza de palavras e texto na sua composição. Ele enfatizou que se a Instituição não fornece um estudo mais aprofundado, você como designer em formação deve buscar outras formas de se abastecer desse conteúdo, e não esperar que haja mudanças ou culpar terceiros.

Bruno falou também que com o advento dos “Macs”, se tornou muito mais fácil trabalhar com tipografia hoje em dia, ao mesmo tempo isso deixou os profissionais de tipografia mais preguiçosos e desconhecedores de muitos aspectos relevantíssimos na área. Hoje qualquer um pode criar uma fonte e vendê-la online, mas isso não faz dele um tipógrafo ou um designer de tipos, na maioria dos casos essas pessoas são ilustradores de fontes, eles desenham formas diferentes para os caracteres, apenas isso.

Um puxão de orelha em muita gente que se acha um typedesigner mas que ainda tem muito o que aprender.

Um comentário em “Tipo da Fonte em Londres!

  • 11/03/2015 em 12:25 pm
    Permalink

    Excelente texto!
    Melhor, ainda, foram as “lições” quanto a baixar a bola… quem é verdadeiramente grande não precisa se dizer grande.
    Ah, sugestão… assine o texto, você merece.

    Resposta

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: