Tipografia nas Histórias em Quadrinhos

Imagens e textos vieram do mesmo lugar, desde que possamos considerar as letras como imagens também. Nos quadrinhos, esses dois são usados de uma forma em que eles tem uma fusão orgânica. Nesse artigo vamos estudar um pouco sobre a tipografia nos quadrinhos para, quem sabe, aproveitar essas técnicas em outros trabalhos.

O modo de ler quadrinhos não é muito diferente de ler um texto corrido, podemos até comparar a forma de um texto ser dividido com as bordas dos quadrinhos. Esse espaçamento é importante para dar uma folga nos olhos do mesmo modo que um espaço em branco é usado em uma peça publicitária ou em um website. Um grande espaçamento indica que as cenas acontecem em um espaço de tempo considerável, do mesmo modo que quadrinhos colados e que se misturam podem indicar acontecimentos rápidos e confusos, como uma luta.

Uma diferença considerável é que fontes serifadas não são muito boas para balões de quadrinhos, pois as imagens e os balões já servem como guia para nossos olhos. De acordo com Will Eisner, a fonte dos balões deve ser informal, para representar a fala, que geralmente é coloquial.

Na tipografia dos quadrinhos também existe hierarquia. Contornos e peso nas letras são usados para dar mais ênfase ao texto. Quando o texto é mais “pesado” que os desenhos, informa que as falas são mais importantes que a imagem. Os títulos usam letras mais rebuscadas e letras “desenhadas” são usadas para passar tipos diferentes de sentimento. Uma letra tremida, por exemplo, indica medo, enquanto uma letra maior pode indicar que o personagem está gritando.

No início dos quadrinhos, as letras eram feitas à mão, com os títulos das revistas feitos dessa forma, passava-se uma certa irregularidade jovial, além de se diferenciar dos jornais. Nessa época os quadrinhos eram uma leitura somente para crianças e adolescentes então esse tipo de tipografia se encaixava perfeitamente. Sempre eram usadas letras em caixa alta nos balões, talvez por um motivo de economia de tempo, é interessante notar que esse modelo continua até hoje, mesmo com os textos feitos digitalmente. Na década de 90, houve uma revolução digital nos quadrinhos e era muito comum ver novos experimentos com tipografia onde as letras tomavam formas novas e extrapolavam balões e quadros. Mas atualmente é muito comum também que os cartunistas continuem a desenhar suas próprias letras, dessa forma alguns ficam até conhecidos por sua letra, como é o caso do cartunista brasileiro Ziraldo. Abaixo podemos ver um vídeo do cartunista mineiro Santiago falando um pouco sobre sua tipografia e como ele a usa em suas tirinhas.

A tipografia das onomatopeias também tem grande importância nas histórias em quadrinhos, é normal usarem letras em formatos diferentes para representar o som específico, abaixo podemos ver alguns exemplos.

Um exemplo interessante é o que Frank Miller utiliza em Sin City, como podemos ver abaixo. Ele usou a forma das letras do tiro em caixa alta como os quadrinhos da cena, pois o som é tão alto que ele engloba o acontecimento todo, como numa situação real. As imagens estão dentro das letras, e não o contrário.

O poder das onomatopéias é tão grande nos quadrinhos que algumas adaptações para o cinema e tv usam desse recurso para deixar a mídia mais parecida com as revistas. O exemplo mais clássico é o seriado do Batman dos anos 60.

Como já foi falado antes, os títulos têm uma tipografia diferenciada por questões de hierarquia, mas alguns desenhistas extrapolam essa idéia construindo exemplos interessantes. O mestre dos quadrinhos, Will Eisner, tinha como marca registrada a técnica de transformar os títulos das histórias em paredes ou o chão onde os personagens estão. Essa sua técnica inspirou gerações de quadrinistas.

Referências:

http://tipohq.blogspot.com.br/2009/11/abrindo-os-trabalhos-sobre-tipografia.html

http://www.masquemario.net/htm/tipografia.htm

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