Quem faz tipografia no Brasil? – Parte 1

Falar de tipografia nacional é falar de uma é contar uma história de conquista que só foi conseguida com esforço e persistência dos melhores artistas nacionais da área, gente que acreditou no potencial da produção tipografia nacional e resolveu unir forças para por o Brasil no cenário tipográfico internacional. É falar também da importância de editoras como a paulistana Rosari, a carioca 2AB e a Cosac Naify que traduziram e publicaram títulos importantes para a difusão e crescimento da produção tipográfica e da formação de novos designers e que antes eram de difícil acesso.

Nesse rumo temos dois caminhos a seguir: falar das fundições, iniciativas e projetos coletivos atuantes e falar dos tipógrafos, designers de tipos e do pessoal responsável por boa parte da tipografia brasileira produzida atualmente. Os caminhos se cruzam e é praticamente impossível falar de uma sem mencionar o outro. Comecemos fazendo abaixo uma listagem das principais fundições encontradas.

Tipos do Brasil

Uma boa forma de começar os estudos sobre tipografia no Brasil é conhecer o Tipos do Brasil, um site colaborativo que pretende ser a maior referência sobre tipografia brasileira. Organizado por um grupo que reúne alguns dos maiores nomes da tipográfica brasileira, a Tipos do Brasil pretende se tornar a maior referência em tipografia nacional com propostas que visam a troca de experiências e a ampliação da rede de contatos entre tipógrafos e designers, bem como fonte de debates ou simples canal de comunicação. Um ambiente que funciona como centro de convergência de produção tipográfica nacional, a fim de divulgar as fontes digitais nacionais. Dentre os participantes do projeto, destacamos Tony de Marco, Yomar Augusto, Ricardo Esteves, Gustavo Lassala, Fábio Lopez e muitos outros que citaremos no próximo post sobre o assunto.

Tipocracia

Outra iniciativa louvável para a tipografia Brasileira foi a criação do grupo Tipogracia. O designer de tipos Henrique Nardi, em 2003, criou o projeto Tipocracia, que virou febre nacional entre tipógrafos e designers. Hoje mais de 2950 pessoas curtem a página do Facebook que é atualizada constantemente. O projeto anda pelo Brasil promovendo e incentivando a cultura tipográfica no Brasil e é uma referência importante na área.

OTSP

Marcos Mello e Cláudio Rocha encabeçam a Oficina Tipográfica São Paulo, uma iniciativa de resgatar os traços, a beleza e a originalidade do design de tipos do passado. O diferencial deles é que mesmo com o boom da tipográfica digital, a OTSP oferece cursos, disponibiliza equipamentos e maquinários para a produção de peças gráficas utilizando a tipografia analógica . No site consta que “O acervo da OTSP se juntou ao do Senai, contando atualmente com 4 impressoras tipográficas, que também fazem corte e vinco, 2 Linotipos  (máquina antiga para tipografia e impressão de caracteres tipográficos)e mais de uma centena de gavetas de tipos de metal e de madeira.”

Outras fontes

O designer e pesquisador de tipo Ricardo Esteves é quem dirige o projeto Outras Fontes. Uma fundição de tipos digital e independente, instalada em Vitória-ES, cujo foco do trabalho está voltado para a elaboração de novas typefaces (faces de tipos) com linguagens múltiplas, personalizadas e exclusivas bem como letreiros. Dentre os trabalhos do Outras Fontes mais renomados está a fonte Jana Thork Pro que fora usada no programa IT MTV, da MTV Brasileira. Em 2012 a família tipográfica Force foi selecionada para o concurso Tipos Latinos 2012, na categoria fontes para títulos. Desde 2009 ela integra o grupo de fundições fornecedoras da AscenderFonts, o maior e mais respeitado catálogo de fontes do mundo.

Just in Type

Conhecidos como os Irmãos de Marco (de Marco Brothers), Tony de Marco e Caio de Marco respondem pela Just in Type – typefoundry brasileira(fundição de tipos). Combinando “movimentos do samba, a sensualidade do carnaval e a precisão do futebol” o resultado gerado são experiências e inovação nas typefaces desenvolvidas. Elegantes e funcionais. Eles foram um dos vencedores do International Linotype Library Type Design Contest (evento promovido pela Companhia Tipográfica Linotype) com a fonte Samba na categoria Display Font, essa mesma fonte faz parte da Linotye Library. Mais uma prova de que a tipografia brasileira tem muito a mostrar para o resto do mundo.

Tupigrafia

Tupigrafia é uma revista anual por Claudio Rocha (da OTSP) e Tony de Marco (do Just in Type) que se propõe a apresentar o que está sendo produzido a nível nacional na tipografia, a maneira como ela está sendo empregada no design gráfico, notícias e informações sobre o cenário internacional e também sobre caligrafia, tanto no Brasil quanto no exterior. A Tupigrafia é uma das únicas publicações brasileiras que aborda a produção do design tipográfico nacional e suas manifestações no design gráfico e na cultura em geral (pintura, fotografia, cinema, história etc.).

Crimes Tipográficos

O ano de 2000 marcou o início do projeto colaborativo Crimes Tipográficos, em Recife, pelos designers Damião Santana e Fátima Finizola. A Crimes Tipográficos começou com brincadeiras com caracteres para gerar posters criativos e hoje essa “brincadeira” de gente criativa passa pela estética vernacular (aquela que é encontrada no cotidiano, sem formalismos e feita pela população), pelo experimentalismo gráfico fazendo referências a tipografias populares e dingbats (fontes onde no lugar de letras, temos formas, ornamentos e símbolos decorativos, um para cada caractere)que refletem a cultura brasileira. Alguns desses estão disponibilizados gratuitamente no site do projeto.

A fonte 1Rial CT foi usada na composição da imagem que abre esse post e também já foi muito usada em campanhas como da Tramontina e na capa do álbum do Paralamas do Sucesso. O grupo possui trabalhos reconhecidos no âmbito nacional e internacional pela Bienal Letras Latinas, Mostra Tipografia Brasilis e Salão Pernambuco Design.

A fonte Zabumba City foi reconhecida na América Latina sendo selecionada para a Bienal Letras Latinas 2006, bem como para o Salão Pernambuco Design 2008. As fontes Capoeira e Zabumba Folk também foram selecionadas para a 3ª Mostra Tipografia Brasilis e para o Salão Pernambuco Design 2006.

Algumas fontes experimentais elaboradas na fase inicial da fonthouse foram publicadas no livro Fontes Digitais Brasileiras. A Crimes Tipográficos quer hoje abarcar não só profissionais da área, mas todos aqueles que encontram na tipografia inspiração para o cotidiano.

Tipos do aCASO

A Tipos do aCASO, primeira digital typefoundry do nordeste brasileiro, atua desde 1998 promovendo eventos, estimulando a produção de fontes e divulgando as mais diversas expressões da tipografia em uma das regiões mais pobres do Brasil. Segundo um dos criadores, conhecido como Buggy: Os caminhos que trilhamos até hoje ajudaram a colocar o Nordeste no centro da discussão tipográfica brasileira e é neste lugar que desejamos permanecer acompanhados de colegas das demais regiões de nosso país. A Tipos do aCASO ganhou  prêmios, promoveu exposições e oficinas, catálogo de fontes próprias e publicou até um livro, oMECOTipo.

Outras ações

Ações independentes, porém coletivas são as engrenagens que movem a construção de uma cultura tipográfica brasileira.

Dentre essas ações, merece destaque a Pintassilgo Prints. Assim como a Outras Fontes, a Pintassilgo Prints está instalada em Vitória no Espírito Santo. A fundição é comanda por Erica Jung e Ricardo Marcin que costumavam trabalhar em diversas áreas do design: ilustrações, design gráfico, design de produtos e até impressão em tela. Ultimamente eles vêm trabalho pesado mais focado no design de tipos. Ao que parece, eles tem se mostrado muito bons.

A fonte Populaire foi eleita pela MyFonts.com como uma das fontes mais populares de 2011. Quem ver seus trabalhos pode até pensar que tudo é feito de forma aleatória de tão orgânica que são as formas das letras, mas não se deixe enganar pela constante irregularidade, cada caractere é meticulosamente pensado para ser assim.

Outra fonte do grupo que obteve boa repercussão foi a fonte Changing, que ficou na listagem das typefaces favoritas de 2011, as fontes Horst, Populaire e Monstro foram destaques na seção Rising Stars da Myfonts. A fonte Caudrifonte ficou na listagem das melhores  fontes para display de 2010. Isso são só alguns exemplos da repercussão que a Pintassilgo Prints tem em blogs, sites e portais de tipografia ao redor do mundo.

Por fim, uma ação que merece também destaque é a do designer de tipos Marcio Hirosse é a mente por trás da Fábrika de Tipos, uma fundição instalada em São Paulo. Por seus catálogos podemos ver que Hirosse é mestre no que faz, uma prova é que ele teve trabalhos publicados no livro Fontes Digitais Brasileiras 1989/2001 – ADG e CD ROM Typeology Vol. One 2006.

Como pode ser visto, mão de obra qualificada não falta no âmbito nacional. Acrescente paixão pelo que faz, dedicação, muita criatividade e esforço árduo e temos a fórmula certa para se fazer história no Brasil. Inovando em cada arco ou ascendente, criando uma network forte e se divertindo a cada premiação ou indicação a nível internacional.

Por trás de cada Casa de Fundição e Grupo ou também em ações isoladas temos o trabalho de bons designers. No próximo post da série sobre tipografia falaremos sobre os principais tipógrafos nacionais.


2 comentários em “Quem faz tipografia no Brasil? – Parte 1

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